sábado, 13 de junho de 2009

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena."
(Fernando Pessoa)

Memorial de leitura

Foi como um casamento

Minha paquera com as palavras começou aos três ou quatro anos de idade. A paixão foi a primeira vista! Pela letra A, depois os números... E a cada encontro, a emoção parecia mais intensa! As letras provavam construir o meu nome, nome de meus pais, palavras... Aquilo era o máximo! Mas o namoro mesmo, aconteceu quando descobri os livros, quando descobri a força de cada palavra, de cada possibilidade que eu tinha através dela...
Uma “escola” com apenas três alunos e a professora, com um único livro didático, plantando em mim a semente de um amor eterno! Ela dizia: “Essas letrinhas vocês jamais poderão esquecê-las!” E eu pensava: ”Isso vai ser impossível”. Mas ela tinha razão: Foram inesquecíveis! Lá, precisávamos preparar o lanche, fazer a limpeza... Fazíamos tudo com muito carinho e nos rótulos que encontrávamos, existia sempre uma descoberta! Mente cu-ri-o-sa!
Na terceira série, que a escola recebeu, eu lembro muito bem, quarenta livrinhos de leitura. Queria ler todos, o mais depressa possível! E consegui rápido, mas depois... Voltei a lê-los novamente já que só havia aqueles. Já na quinta série, numa outra escola, conheci a tão esperada biblioteca! Os livros eram velhinhos... Monteiro Lobato era meu autor preferido! Todos os dias eu ia até lá. Quem ama é assim: quer estar sempre pertinho!
No ensino médio, o afeto e a admiração pelas palavras foi ainda maior, mas surgiu a saudade dos professores do ensino fundamental. Não tínhamos professores preparados, principalmente na área de linguagens. Dava até uma dor no peito... Foi ali, que percebi que não havia mais como viver longe delas: palavras que deram o sentido para minha vida! Eu, realmente, as amava e brigava por um ensino de qualidade...
E finalmente, o noivado e o casamento. Penso que aconteceu na faculdade de Letras. A cada aula novas idéias, novas opiniões! E o que seriam delas, sem as palavras? Tornei-me professora. Quanta responsabilidade?! Início de casamento é um pouco difícil, muito a aprender...
Aos poucos, as palavras foram tomando conta de minha vida, mostrando sempre algo diferente, inusitado! A língua de Eulália, por exemplo, de Marcos Bagno, foi uma leitura surpreendente. E foi dessa forma: uma surpresa aqui, outra ali e elas construíram meu caminho...
E o divórcio? Nesse tipo de relacionamento, ele é impossível!